25 de novembro de 2011

Aproximadamente dez mulheres com gravidez de alto risco deixarão de ser atendidas no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HU) diariamente, devido ao fechamento do serviço de obstetrícia por falta de profissionais. Ontem, aconteceu o último atendimento do serviço de pré-natal. Já a verba de R$ 2,5 milhões que estava prevista para ser repassada ao HU, na segunda-feira, ainda não foi liberada, porém o valor deve subir para R$ 4,1 milhões. Em protesto à situação do hospital, estudantes de Medicina, médicos residentes e alunos do internato realizam hoje, a partir das 8h, um abraço simbólico no HU, seguida de uma caminhada até a reitoria, onde serão entregues novas reivindicações. Os dois últimos, que somam 250 profissionais, também paralisarão suas atividades até a próxima quarta-feira.

 O serviço de obstetrícia foi oficialmente suspenso na sexta-feira, devido à publicação, no Diário Oficial, da aposentadoria dos cinco médicos do setor. Contudo, nos últimos dias, as gestantes vinham sendo atendidas apenas por parte de professores do hospital. “Ontem eles mandaram uma professora para me atender, mas acho que foi só para enrolar”, contou a gestante Francicleide Miranda dos Santos. Como o último atendimento foi anunciado ontem, as mulheres têm sido orientadas, desde então, a aguardar por transferência para maternidades como a Cândida Vargas e a Frei Damião. “Eles pediram que eu aguardasse um retorno na terça-feira, para ver se eu vou ser atendida em outro lugar”, acrescentou Francicleide. 

O diretor médico adjunto do Hospital Universitário, Valério Vasconcelos, explicou que a aposentadoria conjunta dos obstetras se deu por causa do receio de terem seus salários congelados por um Projeto de Lei que está em tramitação no Governo. “A jornada de trabalho de um médico é de 20 horas semanais. Os que trabalham oito horas por dia, portanto 40 horas por semana, recebem salários dobrados. Com o PL 2203, caso eles não se aposentem, eles passarão a receber apenas por 20 horas, e isso foi o que causou essa falta de profissionais”, afirmou. Neste ano, nove obstetras pediram aposentadoria.

 Médicos residentes: situação no HU piorou

 A médica residente em Cirurgia Geral, Lorena Sousa Oliveira, informou que, desde o dia 31 de outubro, quando as cirurgias eletivas foram suspensas no Hospital Universitário, a situação tem ficado cada vez mais grave. “Aqui está tudo pior. Primeiro foram as cirurgias, agora a obstetrícia. A única coisa que mudou é que os três pacientes que aguardavam transferência finalmente foram removidos para o hospital Santa Isabel, mas fora isso, todos os procedimentos médicos têm sido feitos de forma precária, à base do improviso, ainda pior do que antes. É por isso que vamos realizar esse manifesto, que começa amanhã e vai até quarta. Queremos que essa situação seja resolvida”, contou. Com a paralisação das atividades de internos e residentes, cerca de 250 profissionais deixarão de atender no HU.

 Há duas semanas, o CORREIO denunciou que, mesmo as cirurgias de urgência, que ainda estão sendo realizadas no Hospital Universitário, estão sendo realizadas de forma precária. “Só estamos fazendo as cirurgias simples, como raspagem de feridas, limpar ferimentos, aplicar anestesia, colocar uma sonda para pacientes com câncer de esôfago, por exemplo. Cirurgias grandes mesmo, não temos como fazer”, disse o médico residente em Cirurgia Geral, Rodolfo Lúcio Alves Tito. 

Grávidas não sabem o que fazer 

Débora Paula, com cinco meses de gestação, é de Bayeux e está enfrentando uma gravidez de alto risco. Como os Postos de Saúde da Família (PSF) não atendem a esse tipo de gestantes, ela foi direcionada ao Hospital Universitário, todavia, como as demais, não conseguiu ser atendida. “Disseram que o último dia é hoje, porque tem um médico que vai atender a gente. Mas, não sei o que vai ser. Disseram que iam nos encaminhar para outro hospital, mas realmente não sei. O negócio para a gente, que é pobre, é muito complicado”, desabafou.

 Na mesma situação se encontra Renata Barbosa. “Esta é a primeira vez que estou vindo fazer pré-natal, mas já recebi a notícia de que não vou poder ser atendida”, contou. “Disseram só que a gente pode ser transferida para a Cândida Vargas”, disse Maria Solange da Conceição, grávida de oito meses. 

Prefeitura de JP poderá ceder profissionais

O diretor médico adjunto do HU, Valério Vasconcelos, afirmou que o hospital se comprometeu com as pacientes em procurar meios para que elas sejam atendidas em outros hospitais o mais rápido possível. “Deixamos nossos telefones à disposição delas. Há uma enfermeira no ambulatório que se comprometeu em fazer contato quando elas pudessem ser atendidas. Essa é uma possibilidade. Outro entendimento que estamos vendo se conseguimos é solicitar ao Estado e ao município de João Pessoa que cedam profissionais para realizar os atendimentos”, explicou.

 O chefe de obstetrícia do Hospital Universitário, Moisés Diogo, adiantou que essa negociação já foi iniciada. “O superintendente do Hospital, João Batista, contactou diretamente, por telefone, a secretária de Saúde do município, Roseana Meira, e solicitou esses profissionais. Estamos no aguardo”, disse.

 A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de João Pessoa afirmou que a prefeitura já cede espontaneamente profissionais ao HU, porém não pode gerenciar a contratação de quaisquer profissionais, porque isso está na esfera federal. Apesar disso, a assessoria não soube informar, até o fechamento desta edição, se o pedido do superintendente do HU, João Batista, foi recebido ou acolhido. Entretanto, disse que as gestantes podem ir diretamente ao hospital Cândida Vargas, não tendo que estar necessariamente dependentes do Hospital Universitário.

 Concurso para 40 vagas emergenciais 

O superintendente do Hospital Universitário, João Batista, afirmou que uma comissão foi formada recentemente pelo reitor, Rômulo Polari, para avaliar os problemas do HU. Segundo ele, na última segunda-feira, foi feito um levantamento das carências de profissionais, equipamentos e materiais em todas as especialidades. No caso específico dos profissionais, o intuito é que um concurso seja realizado o mais urgente possível para ocupar essas vagas. As maiores necessidades são de médicos intensivistas, isto é, especializados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), e de obstetras. 

“Encaminhamos a relação das necessidades ao reitor. Fomos informados de que um concurso para o preenchimento de 40 vagas está previsto para acontecer em breve. O lançamento do edital pode acontecer no próximo mês, mas temos ainda de esperar um posicionamento da reitoria sobre o assunto. O fato é que, neste primeiro momento, o concurso deve se restringir aos médicos, mas também será feito em breve um levantamento de enfermeiros, técnicos e outros profissionais que estão em falta”, explicou João Batista.

 Segundo a assessoria de imprensa da UFPB, o edital deve ser lançado em dezembro, mas ainda não há uma data específica. Já as 40 vagas dizem respeito à reposição de espaços deixados por aposentadoria, demissão e morte exclusivamente de médicos e relacionam-se ao período de setembro até o presente momento. 

HU deverá receber R$ 4,1 milhões

 O superintendente do Hospital Universitário, João Batista, informou que os R$ 2,5 milhões que estavam previstos para serem repassados ao HU na última segunda-feira não foram liberados, porque, ainda na sexta-feira, dia 18, o diretor geral adjunto dos Hospitais Universitários, Celso Fernando Ribeiro Araújo, entrou em contato com ele. “Ele me informou que deveríamos redimensionar nosso plano de despesas não mais para R$ 2,5 milhões, mas para o valor que havíamos pedido inicialmente, que é de R$ 4,1 milhões. Estamos fazendo o detalhamento dos gastos para enviar de volta”, explicou. 

A razão para o acréscimo da verba, segundo João Batista, deve-se à grave situação em que o Hospital Universitário Lauro Wanderley se encontra. “Eles estão cientes de que nossa situação é grave. Isso tem sido amplamente divulgado na imprensa”, afirmou.

 O dinheiro deverá ser utilizado apenas para a compra de materiais de consumo médico. Já os equipamentos, que também estão em falta, devem ser comprados à parte, mas sem nenhum prejuízo para o HU. “O próprio Ministério da Educação está fazendo uma grande compra dos equipamentos mais caros, como carros de anestesia, mesas cirúrgicas e composição de leitos. O HU deverá receber oito mesas, oito carros de anestesia, mas ainda não foi informado o número de leitos com os quais seremos beneficiados”, concluiu.

 Cirurgias cardíacas; UFPB ainda não foi notificada

 O superintendente do Hospital Universitário, João Batista, informou que, até o presente momento, a intimação da Justiça, que pede esclarecimentos sobre a suspensão das cirurgias cardíacas no HU, em dezembro do ano passado, ainda não foi entregue. A assessoria de imprensa da UFPB também informou que a universidade não foi notificada até então.

“Isso não nos impede de tomarmos medidos para atender à demanda judicial. Por isso mesmo que o levantamento da comissão formada pelo reitor averiguou as necessidades do hospital, inclusive de profissionais. Esperamos que o concurso ajude a suprir as necessidades também na parte cardiológica”, concluiu.

Desde o dia 10 de novembro, consta, no portal da Justiça Federal da Paraíba, uma intimação para que a União, a Universidade Federal da Paraíba, o Estado da Paraíba e o município de João Pessoa preste esclarecimentos, em 72 horas, sobre a desativação das cirurgias cardíacas no HU. Porém, esse prazo só passa a valer a partir do momento da notificação, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.

Fonte: Correio da Paraíba

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