A diretoria do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) apresentou à imprensa, no dia 5 de abril, detalhes de uma vistoria realizada, no dia 4, pela equipe do Departamento de Fiscalização da entidade no Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio Burity (Trauminha), localizado em Mangabeira, bairro mais populoso da capital paraibana. Durante a fiscalização, foram constatadas diversas irregularidades, como superlotação em todas as áreas de atendimento do hospital, falta de insumos e medicamentos, equipamentos sucateados e quebrados, além de uma longa fila de espera para cirurgia.

O presidente do CRM-PB, João Medeiros, disse que a vistoria foi motivada por denúncias da população e da imprensa, além das queixas recorrentes dos médicos que atuam na unidade hospitalar.  “Realizamos uma fiscalização há cerca de seis meses e encontramos diversas dificuldades. Voltamos ao hospital para verificar novamente as condições para que possamos subsidiar ações que colaborem para melhoria do atendimento à população”, destacou João Medeiros.
Na abertura da coletiva de imprensa, ele ressaltou que as fiscalizações do CRM-PB não têm qualquer conotação política. “Meu partido é o CRM, que tem a missão de zelar pelo exercício ético da medicina. Reconhecemos as dificuldades e o empenho dos gestores, mas não podemos ignorar o que foi encontrado e que certamente coloca em risco o atendimento ético da população”, disse.

De acordo com o presidente do CRM-PB, a situação do Trauminha é reflexo do momento sombrio que vive a saúde no país. “As dificuldades são grandes e não só em nível local. A saúde brasileira enfrenta um problema de subfinaciamento e de gestão de recursos em todas as esferas,  municipal, estadual, federal e privada”, destacou.

João Medeiros ressaltou ainda que o apoio do Ministério Público será fundamental para solucionar os problemas no hospital e evitar um prejuízo maior para a população. “Não podemos pensar em interdição neste momento. Isso seria um desastre para os pacientes. O conselho pode pensar em interdições éticas setoriais, em áreas que não oferecem a mínima condições de funcionamento”, esclareceu.

O diretor do Departamento de Fiscalização do CRM-PB, João Alberto Pessoa, disse que a situação do Trauminha é vexatória. “Fazendo uma avaliação técnica, se não fosse por uma calamidade maior, o hospital não deveria estar com portas abertas, não há condições para atender a população”, disse o diretor. Ele acrescentou que durante a fiscalização foi verificado falta de higiene, como barata em enfermaria, ausência de roupa para médicos e pacientes, falta de materiais e medicamentos (antibióticos e analgésicos), lavanderia e radiologia quebradas, setor de revelação com material ultrapassado e vencido, falta de roupa de cama, entre outros problemas.

João Alberto destacou ainda a grande demanda reprimida de cirurgias. “Há pacientes esperando cirurgias há 120 dias. Alguns ficarão com sequelas permanentes pela demora no procedimento. Há pacientes que receberam alta e esperam a cirurgia em casa, correndo também o risco de sequelas”, acrescentou.

Para ele, apenas com o apoio do Ministério Público é possível se reverter o quadro. “Desde o primeiro relatório verificamos que problemas graves que precisam ser corrigidos com urgência. Contamos com a atuação do Ministério Público, que pode pedir o sequestro de bens para que os pacientes internados possam receber o atendimento adequado rapidamente”, disse.

O relatório da fiscalização do Complexo Hospitalar de Mangabeira Tarcísio Burity (Trauminha) foi encaminhado para o Ministério Público da Paraíba, Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa e para direção do hospital.

ROUPAS HOSPITALARES
A quantidade insuficiente, inclusive para equipe médica do bloco cirúrgico, restringido o número de procedimentos. Muitos  leitos estavam utilizando roupas de cama residenciais dos pacientes.

MATERIAL CIRÚRGICO
Houve melhora no quantitativo do instrumental cirúrgico e não houve reclamações dos médicos em relação à disponibilidade. No entando, foi constatado  dificuldades na central de esterilização (falta de invólucro e corte manual de gazes). Apesar de não se tratar de material cirúrgico, foi identificado que os coletores de urina utilizados são abertos, proporcionando risco de infecção urinária.

MATERIAL DE ORTESE E PRÓTESE
Apenas uma empresa fornece materiais ortopédicos.  Não há reposição diária do material. Foi constado ainda que a reposição dos materiais leva até 15 dias, implicando, às vezes na suspensão de cirurgias programadas.

SALA DE RECUPERAÇÃO PÓS ANESTÉSICA
Com seis pacientes internados, o local tinha apenas um monitor e um oxímetro e todos os outros pacientes ficavam sem monitorização.

DEMANDA REPRIMIDA DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
Muitos pacientes aguardam procedimentos cirúrgicos há mais de 30, outros há 60 e 120 dias, fato que pode proporcionar sequelas permanentes. Alguns pacientes recebem alta e aguardam a cirurgia em casa.

HIGIENE
Visível falta de higiene nos diversos ambientes, inclusive com presença de baratas em enfermaria. Foram encontradas lixeiras sem tampa nos locais de atendimento, além de lixeiras sendo utilizados para coletar água dos aparelhos de ar condicionado nos consultórios, salas de urgência e enfermarias.

MANUTENÇÃO PREDIAL
Prédio necessita de manutanção para sanar falhas prediais, como vazamento em teto, gesso de teto quebrado, fungos nas paredes e teto, infiltração em paredes, descargas de banheiro sem funcionar, portas quebradas,  piso com revestimento quebrado, torneiras sem funcionar,  fiação exposta e canalização de gases medicinais sem funcionar.

MÓVEIS E EQUIPAMENTOS
Colchões e poltronas rasgados, cadeiras, mesas e leitos enferrujados, ar condicionados defeituosos, inexistência de macas disponíveis para transporte intrahospitalar de pacientes, pequeno número de cadeiras de rodas e de banho.

MEDICAMENTOS
Falta de medicamentos no hospital. Não havia antiemético e os esquemas de antibioticoterapia são comumente trocados por falta de continuidade na aquisição dos antibióticos.  É comum falta de vários outros medicamentos durante o mês.

ENFERMARIAS
Falta de ventilação/climatização (ausência de janelas,  ar condicionadores  quebrados). Banheiros não têm ventilação. A superlotação ficou evidente pela presença de pacientes internados em consultório médico, corredores e em macas nas enfermarias e salas de urgência e emergência.

SALA VERMELHA
A capacidade do setor é de sete leitos, no entanto, havia 12 pacientes. No local foram encontrados apenas cinco monitores, um deles não era multiparâmetros, oito respiradores artificiais, dezessete bombas de infusão, um oxímetro, um cardioversor (que não funciona por falta de tomada elétrica no ambiente) e uma máquina para hemodiálise (serviço é terceirizado). Risco de infecção cruzada é muito elevado e grande parte dos pacientes não recebe nenhum cuidado preventivo pela falta de monitorização adequada. Algumas vezes o médico plantonista fica em situação muito constrangedora tendo que optar por quem tratar em função da  falta de equipamentos em número proporcional aos pacientes internados. Foi relatado que muitas vezes a sala de sutura é utilizada para o atendimento de emergências por falta de leitos na sala vermelha.

TERAPIA INTENSIVA
Apesar de está funcionando dentro de padrões aceitáveis, constatamos alguns pontos falhos: roupas de cama insuficientes, falta de medicação, ausência de gasometria arterial.

CONSULTÓRIOS MÉDICOS
Os consultórios situados ao lado da recepção possuem também graves problemas estruturais como mofo em parede e ar defeituosos.

SETOR DE IMAGEM
Dosímetros e aventais vencidos e  em péssimo estado de conservação. Das duas salas de radiologia, apenas uma funcionava com um aparelho de 170 MA, impróprio para exames que precisem de maior irradiação.  As radiografias reveladas são de péssima qualidade. O hospital possui no centro cirúrgico 3 arcos cirúrgicos, porém apenas um funcionava. A tomografia está com defeito há cerca de dois anos.

Spotify Flickr Facebook Youtube Instagram
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.