O distúrbio bipolar -transtorno que causa crises alternadas de depressão e de hiperatividade maníaca- pode desencadear uma série de doenças não-psiquiátricas por meio da deterioração do DNA. Ao demonstrar o mecanismo celular por meio do qual o problema ocorre, um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul propõe uma mudança no tratamento de pacientes bipolares. A descoberta da equipe, liderada por Flávio Kapczinski, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), foi divulgada em um estudo na revista “Psychiatry Research”, no início deste mês. O trabalho já está repercutindo no meio médico, após ter sido divulgado também pelo site da Associação Psiquiátrica Americana. No estudo, Kapczinski mostra que o dano ao DNA é produzido por causa do mau funcionamento das mitocôndrias, as estruturas responsáveis por processar a energia da célula. “Quando a mitocôndria está desfuncional –ou por estar sendo superexigida ou por estar sofrendo algum tipo de toxicidade externa- ela acaba liberando mais radicais livres”, explica o pesquisador. Radicais livres, uma classe de moléculas extremamente reativas, causam então o dano ao DNA, por meio de oxidação. Para avaliar o grau de pressão da depressão bipolar sobre o DNA, Kapczinski usou técnicas semelhantes àquelas que medem o efeito da radiação nos cromossomos. A emissão de moléculas oxidantes, por fim, se revelou a causa de um fenômeno já conhecido: o alto índice de doenças vasculares entre pacientes bipolares. “O endotélio [tecido dos vasos sangüíneos] é muito sensível à toxicidade, seja ela por oxidação ou outro tipo”, diz o cientista. “E o estresse oxidativo produz um envelhecimento acelerado, então ocorreria também uma prevalência maior de doenças ligadas ao processo natural de envelhecimento.” Mudanças no tratamento Segundo Kapczinski, a descoberta reforça a importância de antecipar o tratamento. “Temos uma parceria com a Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e eles têm um grupo de pacientes bipolares que acabaram de apresentar o primeiro episódio [crise], já os nossos pacientes aqui tiveram vários”, conta. “A gente está comparando os dois grupos, e há uma evidência boa de que o estresse oxidativo está bem mais aumentado naquele que tem doença mais avançada.” A rapidez em diagnosticar e tratar também ocorre porque entre os males causados pelo estresse oxidativo está a morte de neurônios em áreas importantes para a consciência. “Se o indivíduo tem um dois episódios [crises da doença bipolar] e começa a tratar, ele tem chances muito boas de nunca mais ter episódios na sua vida”, afirma o pesquisador. “Mas essas medicações não restauram o sistema nervoso.” O trabalho dos pesquisadores do Rio Grande do Sul também rendeu uma parceria com um grupo de pesquisa que acompanha pacientes bipolares em Sydney e em Geelong, na Austrália. Nessas duas cidades –e em Porto Alegre– já está sendo feito um teste clínico para saber se o uso de medicamentos antioxidantes pode ajudar a controlar o efeito colateral do dano ao DNA causado pela depressão bipolar.

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