“A pandemia tem sido uma tragédia para a medicina preventiva”

Desde criança, Osório Lopes Abath Filho já sabia que seria médico. Ao acompanhar o pai nas visitas aos pacientes, o menino foi se reconhecendo naquela profissão e seguiu a mesma especialidade do seu progenitor: a Urologia. Formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba, em 1966, com pós-graduação em Urologia pelo Hospital de Servidores do Estado do Rio de Janeiro e com Especialização em Oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer, Osório Abath Filho é professor da UFPB e médico urologista do Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa, há 54 anos.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre a evolução da Urologia nos mais de 50 anos que se dedica à especialidade, a mudança do perfil do médico, as consequências da pandemia para a medicina preventiva, a importância das campanhas publicitárias para diminuir o receio dos homens quanto aos exames para o diagnóstico precoce do câncer de próstata e a necessidade de se manter as medidas protetivas contra o coronavírus. “Quando eu iniciei, o exame físico era fundamental para o diagnóstico das patologias urológicas”, lembra.

Quanto à pandemia de Covid-19, ele diz que acredita que a pior fase já passou, “mas isso não significa que devemos nos descuidar das medidas profiláticas até a chegada da vacina”, disse. No entanto, para ele, os pacientes precisam continuar fazendo os exames preventivos. Na Semana do Médico 2020, Osório Abath Filho foi um dos médicos homenageados pelo CRM-PB e recebeu a Comenda Lucas – Médico de Homens e de Almas, por seus 54 anos de formação e dedicação à Medicina.

               

Como foi a sua escolha pela Medicina e pela Urologia?
Não posso negar que a minha escolha em ser médico e ser urologista tem uma grande influência do meu pai. O meu pai, o professor Osório Lopes Abath, foi talvez o primeiro urologista que assumiu essa especialidade desde 1930. Eu o acompanhava, quando criança, a suas visitas aos seus pacientes no hospital. Isso me fez gostar de ser médico. Como consequência, acompanhá-lo também desde o início da faculdade, me dediquei à urologia.

O sr acompanha a evolução da Urologia há mais de 50 anos. Quais são os pontos positivos e os negativos que o sr pode apontar neste período? A tecnologia revolucionou determinados tratamentos, mas os médicos se afastaram dos pacientes?
Eu peguei uma fase bem interessante da Urologia na Paraíba. Quando eu iniciei, ainda não existia ultrassonografia. O exame físico era fundamental ou exames endoscópicos para o diagnóstico das patologias urológicas. Na Urologia, naquele tempo, predominava o tratamento das doenças sexualmente transmissíveis e suas complicações. No consultório, tratávamos pacientes com uretrite gonocócica, sífilis e estenose de uretra. O exame físico era fundamental para o tratamento dessas doenças. Depois disso, vieram a ultrassonografia e a urografia excretora e começou-se a explorar também a parte laboratorial das doenças urológicas. Foi uma grande evolução. E a evolução maior foi quando começou a cirurgia endoscópica. O médico deixou de fazer a cirurgia pelo corte, para fazer a cirurgia laparoscópica e até por ultrassom no tratamento dos cálculos renais. Isso mudou muito a Urologia e o perfil do urologista. Com essa evolução, negligenciou-se mais o exame físico do paciente. Hoje, vai-se ao consultório e o médico solicita um perfil de exames de imagens e de laboratórios para poder dar o diagnóstico. Mas se olharmos o que se faz hoje em medicina urológica do que se fazia antigamente, o progresso foi enorme, principalmente na parte de diagnóstico precoce do câncer de próstata e dos tumores renais.


A pandemia tem atrasado a realização de exames e consultas que previnem o câncer de próstata?
Não há dúvida que a pandemia foi uma tragédia em termos da medicina preventiva. Basta dizer que nos dois primeiros meses os consultórios foram fechados. Ao mesmo tempo em que o médico estava receoso em ter um número grande de pacientes, estes estavam com medo de se contaminar no consultório. Então, caiu muito o número de exames preventivos.

Neste Novembro Azul, o sr acredita que os homens ainda estarão receosos em procurar os serviços de saúde?
Hoje, com a propaganda na televisão e na internet, caiu muito o receio do homem com o toque prostático, há uma aceitação maior. Mas ainda há muitos homens que se recusam a fazer o exame.


A falta de informação ainda afasta os homens das consultas e exames para o diagnóstico precoce do câncer de próstata?
A falta de informação ainda afasta muito os homens dos consultórios por dois motivos principais. Primeiro porque alguns têm medo de ter alguma coisa. Então, a ignorância de não procurar o médico é uma autodefesa para não se sentir na obrigação de fazer um tratamento. Segundo, a recusa em ir ao médico é para não perder tempo fazendo exames, pois sempre se sentem ocupados.

O sr acredita que a pior fase da pandemia já passou?
Eu acredito que sim. A população já está mais ou menos conscientizada da necessidade de se prevenir. O uso de máscara tem grande aceitação. O risco é a abertura. A gente começa a se acostumar com os fatos, com o número de mortes e acha que aqui não acontece. Só começa a se chocar quando um familiar ou um amigo ficam doentes. A pior fase passou, mas não significa que devemos nos descuidar das medidas profiláticas até a chegada da vacina.

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