Por Dr. João Modesto Filho – CRM 973/PB
Presidente do CRM-PB

A Sociedade Brasileira de Diabetes avalia que o Brasil tem cerca de 16 milhões de diabéticos, sendo 90% do Tipo 2. Esse é o tipo de diabetes que acomete principalmente pessoas a partir de 30-40 anos de idade, tem forte herança genética e, na sua maioria, apresentam excesso de peso. Segundo dados do “Atlas do Diabetes” da “Federação Internacional de Diabetes”, nos últimos 10 anos houve um aumento de 26.6% no número de casos de Diabetes. Trata-se de uma afecção crônica diagnosticada clinicamente e através de exames de laboratório. Na parte clínica, e em fase de descompensação avançada, urinar muito, beber muita água e perder peso são elementos importantes para o diagnóstico. Por seu turno, o exame laboratorial mais utilizado é a dosagem da glicose sanguínea em jejum (glicemia). Os valores normais estão compreendidos entre 70 e 99 mg/dL; a partir de 126 mg/dL é feito o diagnóstico de Diabetes. Valores compreendidos entre 100 e 125 mg/dL indicam um estágio intermediário conhecido como pré-diabetes. O diabetes tem relação com o estilo de vida onde pontificam alimentação desregrada e hipercalórica, com consumo excessivo de alimentos industrializados e doces, aos quais se soma a herança genética e o sedentarismo.

Os distúrbios metabólicos começam cerca de 7 a 10 anos antes da doença real. Dados sobre a prevalência de pré-diabetes foram divulgados recentemente (em setembro) por ocasião do “Congresso Europeu de Diabetes” e mostraram que a prevalência global em 2021 era de 5.6% (286 milhões), devendo aumentar para 6.2% (397 milhões) em 2045. Um estudo dinamarquês, também apresentado nesse Congresso, acrescentou que dentro de 5 anos uma em cada cinco pessoas com pré-diabetes evoluirá para diabetes (incidência cumulativa em 5 anos estimada em 20.1%). Nessa fase, os cuidados adequados para a busca de um peso normal, a adoção de uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física permitem o retorno à normalidade. Existem substâncias que, quando usadas criteriosamente, também podem contribuir para o retorno à normalidade.

Uma alimentação desequilibrada é uma das bases para o surgimento do sobrepeso e da obesidade, o que promoverá o desenvolvimento de doenças metabólicas. Muita gordura, muito açúcar, muito sal e muito álcool desequilibram a alimentação e facilitam o aparecimento do pré-diabetes. Por outro lado, micro-organismos que constituem a microbiota intestinal desempenham um papel importante nas funções digestivas, metabólicas, imunológicas e neurológicas, e os alimentos impactam na composição dessa microbiota. As bactérias intestinais, a partir da alimentação, produzem compostos orgânicos que podem alterar a composição da microbiota e podem influenciar diretamente no desenvolvimento do diabetes tipo 2. Estudos recentes mostram que uma dieta desequilibrada pode levar ao aparecimento do propionato de imidazol, que é uma substância que bloqueia a ação da insulina impedindo-a de diminuir a quantidade de açúcar no sangue. Pessoas com pré-diabetes e diabetes tipo 2 têm níveis mais elevados de imidazol no sangue.

Nutricionalmente, uma alimentação mais variada e saudável permite enriquecer a microbiota e contribuir para a prevenção do diabetes. A dieta variada pode ter 5 categorias principais de alimentos, ou seja: 1) carne, peixes, ovos; 2) laticínios; 3) cereais e alguns produtos de amido; 4) legumes e 5) frutas. Uma dieta diversificada deve incluir pelo menos um alimento de cada categoria todos os dias, além de seguir algumas regras simples: consumir pelo menos 5 porções de frutas e vegetais por dia; limitar o uso de gorduras, especialmente saturadas; aumentar o consumo de carboidratos lentos; limitar os alimentos açucarados; limitar o consumo de bebidas alcóolicas e consumir água/líquidos satisfatoriamente, ou seja, pelo menos um litro e meio por dia. Uma alimentação saudável aliada a prática regular de atividade física, além de extremamente benéficas, podem evitar o aparecimento do diabetes. Por fim, há uma necessidade urgente de implementar intervenções que detenham o aumento do pré-diabetes a fim de evitar uma futura epidemia do diabetes, que atualmente ameaça sobrecarregar os sistemas de saúde em todo o mundo.

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