A idade em que as meninas e meninos passam pela puberdade vem caindo ao longo dos anos. Há uma série de hipóteses para esta antecipação e, entre elas, as mudanças na alimentação e nos estímulos ambientais. Um dos fatores de risco para a puberdade antecipada é a obesidade infantil, conforme explica a endocrinologista pediátrica, Débora Alencar. “Hoje, sabemos que 40% das crianças com puberdade precoce têm sobrepeso/obesidade no diagnóstico”, afirma.

 

Formada em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), residência médica em Pediatria pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), residência médica em Endocrinologia Pediátrica e Mestrado em Pediatria pela Universidade de São Paulo (USP), Débora Alencar é, atualmente, professora de pediatria do Unipê e da Famene, além de atender em seu consultório particular e no serviço público em Parnamirim (RN).

 

Na entrevista a seguir, além de falar de puberdade precoce e obesidade, ela alerta sobre os disruptores endócrinos que alteram o funcionamento do organismo, fala de crianças com baixa estatura e ressalta a importância do pediatra como orientador das famílias para que se cumpra o calendário vacinal. “É necessário que haja o estreitamento da relação médico-paciente a fim de que os pais confiem no que o profissional vai orientar, bem como um combate maciço às fakenews em relação às vacinas”.

 

Quais são os sinais da puberdade precoce? Quais orientações os pais devem ter?

Em meninas, a puberdade precoce se caracteriza como aparecimento de mamas antes dos 8 anos de idade e em meninos, pelo aumento de volume testicular antes dos 9 anos. Além disso, presença de pelos pubianos e odor axilar também são sinais de alerta para puberdade precoce. Na presença desses sinais, a família deve procurar um endocrinologista infantil para avaliar a necessidade de tratamento para impedir a progressão da puberdade.

 

A obesidade predispõe a criança a uma série de enfermidades. Ela também aumenta as chances de puberdade precoce?

A obesidade e o sobrepeso estão cada vez mais frequentes em nossa população, acometendo crianças com idade cada vez menores! Além de alterações metabólicas, como aumento do colesterol, triglicerídeos e glicemia, vemos outras repercussões importantes nessas crianças, como antecipação da puberdade! Hoje, sabemos que 40% das crianças com puberdade precoce têm sobrepeso/obesidade no diagnóstico!

 

O que são os desreguladores endócrinos/hormonais? O que podem causar e como se prevenir?

Desreguladores (ou disruptores) endócrinos são substâncias químicas que alteram o sistema endócrino e a função hormonal e agem substituindo, bloqueando, aumentando ou diminuindo a quantidade de hormônios em nosso corpo, alterando o funcionamento do organismo, principalmente da função sexual e reprodutiva. O contato prolongado e persistente com essas substâncias pode levar a quadros de puberdade precoce, câncer de mama, alteração da menstruação, endometriose, diminuição no número de espermatozoides, alterações na tireoide, ganho de peso…  Alguns dos desreguladores endócrinos mais conhecidos são:

– DDT, Metiran, Dieldrin, Paration (presente em pesticidas, herbicidas e fungicidas)

– Bisfenol A, ou BPA (presente no revestimento interno de latas, resinas epóxi)

– FItalatos (presente em cosméticos como esmaltes de unhas, vernizes, inseticidas)

– Chumbo (presente em baterias, primmers, tintas, pigmentos)

– Estireno (presente em copos de plástico descartáveis)

Para se prevenir e evitar a exposição a desreguladores endócrinos, sugiro algumas medidas simples, mas eficazes como:

– Comprar mamadeiras, chupetas e mordedores com o selo “BPA free”.

– Consumir alimentação “orgânica” sempre que possível;

– Olhar sempre o rótulo dos produtos de higiene e cosméticos;

– Não aquecer alimentos em recipientes plásticos no forno de micro-ondas;

– Não armazenar alimentos gordurosos em recipientes, sacos ou filmes plásticos;

– Não dar para crianças pequenas, mordedores ou pequenos brinquedos plásticos;

– Lavar bem e descascar as frutas e vegetais.

 

Pais com baixa estatura terão filhos, necessariamente, com baixa estatura? Há algum tratamento e quando é indicado?

Não, necessariamente. A genética é muito importante na hora de considerarmos a altura da criança, mas é importante saber se o crescimento dos pais também foi adequado e de acordo com a genética deles, porque se algum deles também apresentou problema no crescimento e não foi corrigido, a altura dos pais passa a ser olhada com ressalvas, pois a “genética esperada” poderia ser melhor. Quando for detectada uma baixa estatura, fazemos uma investigação completa em vários fatores que podem estar interferindo o crescimento adequado da criança, e em alguns casos, quando identificado deficiência da produção do hormônio do crescimento, indicamos o tratamento com esse hormônio a fim de melhorar a estatura da criança.

 

Atualmente, todos os estados têm registrado baixas coberturas vacinais de crianças. Como pediatra, como convencer os pais da importância das vacinas?

As vacinas são extremamente importantes para a mudança absoluta da morbidade e mortalidade em todas as faixas etárias. Entretanto, hoje vemos certa resistência por parte da população em aderir ao calendário vacinal. O grupo que hesita se vacinar hoje está entre 20% e 25%. Para convencer os pais da importância das vacinas é necessário que haja o estreitamento da relação médico-paciente a fim de que os pais confiem no que o profissional vai orientar, bem como a realização de campanhas pelas instituições e combate maciço às fake news em relação às vacinas.  As vacinas devem ser estimuladas e compartilhadas por todos!

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